O verdadeiro sinal do batismo no Espírito Santo

E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo. Mateus 3:11

A Palavra de Deus diz que Jesus batizaria com o Espirito Santo aqueles que o tiverem por único Senhor e Salvador. Jesus não veio para ser o salvador. Ele veio para ser o SENHOR. A salvação é uma consequência de se aceitar o senhorio de Cristo em nossas vidas.

Quando Cristo se torna o Senhor, não apenas a salvação, mas outras coisas nós recebemos: cura, paz, suprimentos... Mas principalmente o Espírito Santo, que comumente chamamos de batismos no Espírito Santo. "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito" - 1Co 12.13.

Ora, se o batismo só é dado para aqueles que têm Jesus como o único e suficiente SENHOR, e como não há outra opção, significa que aquele que não tem Jesus em caráter exclusivo, não pode ter o batismo com o Espírito Santo, correto?

Os pentecostais atribuem alguns sinais emotivos, especialmente os cultos efusivos e o falar línguas ininteligíveis, como sinal de que a pessoa recebe o Espírito.

Ora, se é assim, como explicar as mesmas manifestações em cultos pagãos ou animistas? A explicação é que estas manifestações são na verdade fruto de faculdade humana. Como tal, o ser humano pode usar isto num culto pagão ou num culto cristão verdadeiro.

Assim como um cantor, antes de se tornar um cristão pode cantar para os demônios e depois, ao se converter, canta para Deus, ele poder usar de sua emoção para adorar o demônio ou a Deus. Vai depender se ele é ou não um cristão genuíno.

Isto posto, o que chamamos de "sinais" de batismo no Espírito são na verdade pura manifestação humana, hora usada num culto cristão, hora não. Muitos cultos evangélicos ou da Renovação Carismática Católica dão ênfase as estas manifestações, mas isto não quer dizer nada.

O único e verdadeiro e bíblico sinal de que uma pessoa é batizada no Espírito Santo é se Jesus é único SENHOR de sua vida.

Expandindo o tema
Vamos agora detalhar este assunto. Minha argumentação é que: (a) todo crente verdadeiramente nascido de novo é batizado no espírito Santo; (b) manifestações sobrenaturais, incluindo falar línguas estranhas (ou melhor, ininteligíveis), são atitudes humanas, que qualquer um pode reproduzir.

No Antigo Testamento, o Espírito Santo, como  uma pessoa divina, não era ainda conhecido. E cerca de apenas 100 pessoas foram cheias do Espírito (Davi, Moisés, os profetas...). Então Joel profetiza que haveria um dia em que o Espírito seria derramado sobre todos, sem distinção.

Claro que este todos é relativo, e o entendimento disto viria com a explicação de Pedro: "Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos; E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão" - Atos 2:16-18; com as palavras de Jesus: "Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias" - Atos 1:5. Jesus falava diretamente aos seus discípulos e apóstolos. A promessa então se limitava aos crentes e não a qualquer ser humano. Pode parecer óbvio, mas entendermos a razão desta distinção ao falarmos do dom de língua ininteligível.

Batismo com Espírito e com fogo - Mt 3.11; Lc 3.16.
A expressão  com Espírito Santo e com fogo aparece em Mateus e Lucas. Em seu texto mais amplo, de Mateus, diz:
E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão. E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo. Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará. Mateus 3:7-12.

Fica claríssimo que o fogo aqui não é de bênção, mas de maldição, de juízo. João condena a hipocrisia dos fariseus que foram a ele não por causa da mensagem e com atitude de arrependimento. Assim, eles são comparados árvores que não produzem bons frutos, que serão cortadas e lançadas no fogo. Aqueles que receberem a mensagem, e por consequência, o Evangelho, um pouco mais tarde, receberão a bênção: o Espírito Santo; por outro lado, os demais receberão a maldição: o fogo que nunca se apagará.

As línguas em Atos
Em primeiro lugar, é sabido que Atos não é um livro doutrinário, mas histórico. É temerário extrair doutrina em Atos. Mas mesmo assim, será mesmo que este livro ensina que a evidência do Batismo no Espírito Santo são as línguas ininteligíveis?

Uma leitura superficial de todo o capítulo 2 de Atos mostra que, na ocasião do batismo ninguém falou língua ininteligível (aliás, a palavra estranha não aparece quando se refere a línguas, no texto grego). Os discípulos simplesmente estavam orando em sua língua materna, e foram os demais visitantes de outras nacionalidades que ouviram em suas línguas nativas.

Façamos um exercício de imaginação, porém repeitando a originalidade do texto. Os apóstolos oraram em português, mas havia ali nativos da França, Alemanha, Japão, Espanha, Holanda, Escócia, dentre outras. De repente, o francês ouviu em francês, apesar de Pedro estar orando em português. O Alemão ouviu em alemão, apesar de Tiago orar em português. E assim suscetivamente.

A primeira manifestação sobrenatural após o derramamento do Espírito foi capacitar os discípulos a falarem outro idioma que nunca aprenderam.

E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Atos 2:4-8

O texto é claro! Ninguém testemunhou o falar de uma língua que fosse ininteligível.

Atos 1.8
É um texto muito importante e extremamente revelador. "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra". Precisamos destacar as palavras:
a) Virtude - dynamin - poder, força, habilidade.
b) Testemunha - martyres - mártir, testemunha (de tribunal) ocular.

Jesus está dizendo àqueles que foram testemunhas oculares de seu ministério que eles receberiam capacitação sobrenatural somente após o derramamento do Espírito com a finalidade de dar testemunho dele. Como a palavra martyres também pode ser traduzida por sofrimento, Jesus já está dizendo que o testemunho de muitos seria debaixo de sofrimento, o que de fato ocorreu. Por isso, ainda mais precisaria de um poder sobrenatural, pois nem todos têm capacidade para sofrer por uma causa.

Mas veja com o Lucas aqui já comunica como ele irá organizar seu livro. Atos bem pode ser um segundo volume, uma continuação de seu evangelho, no qual ele diz em 1.3: "Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem(...)" .

Desta forma, em At 1.8 ele diz que o evangelho seria pregado em Jerusalém, Judeia, Samaria e confins da terra. E uma leitura cuidadosa de Atos verá que a narrativa segue esta ordem.

Quanto ao derramamento do Espírito Santo, aqui Lucas narra o evento ocorrendo em Jerusalém, sobre os discípulos judeus de Jesus. Depois Lucas narra o mesmo acontecendo com samaritanos (meio-judeus) - At 8.16. A seguir com um gentio convertido - At 10.46. Por fim, o derramamento sobre gentios "puros sangue" - At 19.6.

Lucas registra apenas um evento de cada, deixando claro que a sua intensão era apenas provar que o Espírito seria para todo crente e não apenas judeus. Em todos eles, houve a presença de um apóstolo, para que ficasse claro a autoridade apostólica sobre o evento e que a sua genuinidade não fosse questionada.

Resumindo, em primeiro lugar, Atos não doutrina sobre o batismo com o Espírito ser uma segunda bênção. Precismos partir do pressuposto que a Igreja acabara de nascer. A promessa de Joel tem início a partir de Atos 2. Era absolutamente necessário que o derramamento inicial do Espírito tivesse de ser de algum modo visível fisicamente e que contasse com a aprovação e participação apostólica. Uma vez concluído o cânon e solidificada a doutrina, não se faz necessária nenhuma evidência sobrenatural para a crença na afirmativa: "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito".1Co 12:13.

Em segundo lugar, se alguma doutrina pode ser corroborada por Atos, e eu a defendo, é a de que o dom de variedade de línguas de 1Co 12.10 trata-se de capacitação para falar outro idioma, não uma língua ininteligível.

A torre de Babel - Gn 11.1-9
Neste episódio, algo que passa desapercebido é o verso 6: "E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer" (grifos meus).

É impressionante como o próprio Deus testemunha que a unidade do povo, especialmente por causa de terem o mesmo idioma, daria a eles relativo sucesso. A solução foi confundir o idioma.

Como a intensão de Deus agora é que o evangelho seja anunciado a todas nações (etnias) - Mt 24.14, e dada a urgência do cumprimento desta tarefa, justifica a necessidade de uma capacitação sobrenatural para que a Igreja possa falar o idioma daqueles a quem querem alcançar. Atos 2 é o reverso de Gn 11.

E as línguas ininteligíveis?
Uma leitura de 1Co 14, desprovida de preconceito, nos deixa confusos. Em algum momento Paulo parece descrever que a língua falada é uma glossolalia (termo para o falar coisas ininteligíveis).
"O que fala em língua [desconhecida] edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja. E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação. Por isso, o que fala em língua [desconhecida], ore para que a possa interpretar. Porque, se eu orar em língua [desconhecida], o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto". 1Co 14.4-5; 13-14.

Preciso lembrar que o termo desconhecida, estranha, que aparecem em algumas versões não fazem parte de manuscritos antigos. O termo traduzido por língua é glossa.

Se procurarmos na internet, em sites de vídeos, veremos que grupos católicos e até não cristãos falam em línguas ininteligíveis. Em um deles, um padre ensina como falar "língua estranha". Ora, se ela é aprendível, então não é dom sobrenatural.

Mas o que prova isto é que falar palavras ininteligíveis é próprio do ser humano. Já ouvi pessoas que atacam o pentecostalismo dizerem que na verdade se trata de coisa demoníaca, pois adoradores de Satanás e religiões orientais praticam tais coisas.

Para mim, é a prova de que esta capacidade é puramente humana e o ser humano tem a liberdade de usá-la para adorar quem ele quiser: Deus, Jesus, um boi, Satanás, uma imagem de santo... O que irá tornar o ato sacro ou profano é a pessoa que o pratica e para quem ela pratica.

Não precisa ser batizado no Espírito Santo para falar palavras ininteligíveis. Agora, um crente verdadeiro tem todo o direito de praticar isto em louvor e adoração a Deus.

O ponto então não é negar a sinceridade de pronunciar palavras ininteligíveis num culto a Deus, mas tenho para mim que não é isto que 1Co 12.10 está se referindo nem muito menos foi isto o que ocorreu nos quanto registro de Atos.

É possível que em Corinto estivesse acontecendo isto. Ou pode ser que as pessoas pensassem assim. Precismos tem em mente que a cidade de Corinto era uma cidade portuária e uma das mais importantes do mundo nos tempos de Paulo. Ali passavam e residiam pessoas de muitas nações e que falavam seus próprios idiomas.

Imagine uma Copa do Mundo, ou um Olimpíadas.  Assim era Corinto quase todos os dias. Agora, imagine que os crentes soubessem que havia um local de culto e oração... É fácil concluir a importância da manifestação sobrenatural em capacitar uma pessoa a falar um idioma que nunca aprendeu. Nunca perca de vista que a Bíblia, o cânon, não estava completo. Fazia-se necessário que o Espírito Santo manifestasse com maior frequência.

Não digo que hoje não precisamos do Espírito. Claro que sim, mas temos uma vantagem que nossos primeiros irmãos não tinham: a Bíblia completa!

Não vejo nenhum problema alguém louvar a Deus com palavras ininteligíveis. Não tenho nada contra quando isto acontece no culto de domingo, mas precisamos seguir a orientação de 1Co 14 que é expressa e clara: "E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus"
1Co 14.27-28.

Para mim este texto deixa claro que não devemos impedir as orações em línguas, mas a pessoa deve ser orientada a conter-se caso não haja intérprete. 

Concluo
a) Todo aquele que é nascido de novo é batizado no Espírito Santo;
b) Este batismo não é uma segunda bênção;
c) Línguas ininteligíveis não são evidências do batismo;
d) As línguas de 1Co 12.10 são idiomas;
e) Apesar de línguas estranhas não serem dom espiritual, elas em si são neutras e não há problema em pronunciá-las em atitude de louvor a Deus.