“Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração” - 1Pe 4.9 (JFA-RA).
Uma inquietante pergunta não se fez calar em minha mente ao
ler este texto: como ser hospitaleiro nos dias atuais quando a violência é alta
até mesmo entre parentes, o que dizer de estranhos? Podemos confiar em qualquer
um que aparece em nossa casa, recebendo para dormir simplesmente pelo fato de
se apresentar como um cristão?
Nos tempos bíblicos não apenas Israel praticava a
hospitalidade, mas todos os povos e culturas. Alguns deles consideravam até
mesmo ser crime não receber um estrangeiro. Aliás, a palavra hospitalidade, no texto bíblico de referência
é philoxenos, ou seja, amigo de
estrangeiro; amar o estrangeiro (no sentido de lhe fazer bem).
Desta forma, não seria necessária uma ordem apostólica porque
receber bem um estranho era tão natural quanto para nos hoje oferecer um
cafezinho ao nosso visitante. Pedro tinha isto em mente, ou seja, ele sabia que
os crentes seriam naturalmente hospitaleiros. Talvez o problema residisse na qualidade da hospitalidade, e/ou do
hospitaleiro.
No grego, a frase está assim: “hospitaleiros uns para com os
outros sem murmuração” (Novo Testamento Interlinear). Parece assim um conselho, uma exortação, um
encorajamento, para que os crentes continuassem a praticar a hospitalidade, mas
de forma mais elevada, sem nenhum tipo de queixume.
Agora, com podemos transpor para os dias atuais este
conselho? Em que ele se aplica a nós?
Indo além do óbvio, que devemos tratar bem as visitas,
aquelas que conhecemos, ou os irmãos da igreja, os pastores e missionários,
consideremos outros detalhes.
Nos dias do apóstolo não existiam templos cristãos, como
hoje. As reuniões e cultos aconteciam nas casas. E elas eram diárias. Vemos no
relato de Atos 4 que as reuniões não eram apenas para o culto em si, mas também
para o fortalecimento da comunhão, amizade e cooperação entre eles. Quando o
texto diz que vendiam suas propriedades e bens e dividiam, vemos que se tratava
de sustento material.
Inicialmente podemos considerar tudo muito festivo, mas com
o pássaro dos dias, dos anos, ocorre o enfadonhamento o esfriamento nas
relações. Consideremos ai o abuso, o aproveitamento, as dificuldades
financeiras e toda sorte de problemas humanos nas relações interpessoais é de
se esperar que houve queda na qualidade da prática da hospitalidade, com
reflexos direto na qualidade da comunhão entre os crentes.
Dois séculos mais tarde, e vivendo num país ocidental, com
liberdade para construir templos em qualquer esquina, não precisamos ficar de
casa em casa. Não quero dizer que não podemos, mas que não precisamos.
Recentemente vemos um crescente em grupos que retomaram a estratégia de cultos
em lares (células), mas a bíblia não recomenda um em detrimento de outro. Somos
livres para usar a estratégia que quisermos.
Dentro do contexto daqueles que optam pela estratégia de
manter as atividades de culto primariamente, senão exclusivamente, em templos,
entendo que o texto de Pedro faz recomendações para que a hospitalidade seja
adaptada para esta realidade.
Até por isto ele recomenda o uso dos dons em favor uns dos
outros (o que Paulo também o faz de modo mais extenso em Rm 12).
Meu objetivo neste artigo não é dar dicas de práticas de hospitalidade.
Que sua criatividade faça isto. Quero aqui ressaltar duas coisas:
a) A hospitalidade que se refere a Bíblia não se restringe,
no nosso contexto atual, a recepção de visitas em nossos lares. Refere-se a recebê-los
em nossos templos.
b) A hospitalidade deve ser interpretada com o servir
mutuamente, cada um com seu dom ou habilidade dado por Deus, de maneira a
proporcionar as melhores condições para que ambos prestem um culto a Deus que
seja aceitável e agradável.
Sendo assim todo crente tem o dever de usar o que faz de melhor
com o propósito específico de colaborar para que o próximo preste culto a Deus.
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