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Ofertas e Dízimo na Bíblia


Duas palavras muito comuns na Igreja moderna (e pós-moderna) são dízimos e ofertas. Oferta atualmente é sinônimo de contribuição financeira. No contexto evangeliques oferta é o mesmo que dinheiro. Mas é assim na bíblia? Sem dúvida, estas duas palavras estão na bíblia, mas ao que elas se referem é o que a Igreja hoje diz?
Na Lei cerimonial, ela está ligada diretamente a culto, e não ao dinheiro. Ofertar era prestar culto e não depositar dinheiro no gazofilácio.

Dízimo também não estava ligado a dinheiro e era muito mais um sistema, uma estratégia, utilizada por Deus para que uma das tribos de Israel, os levitas, tivessem sustento material com a finalidade de dedicarem-se exclusivamente ao serviço religioso.

1- Ofertas cultuais
Em especial nos primeiros 6 capítulos de Levítico nos é relatado as muitas ofertas de animais e cereais como expressão de culto a Deus. Mais especificamente, estas oferendas, cuja palavra original é qorban, são os sacrifícios pelos pecados.  Nestes casos, o uso da tradução oferta não remete a contribuição financeira.

No quadro abaixo podemos ver como era o funcionamento das Ofertas, segundo o livro de Levítico:

Cap Tipo Quando Elementos Parte                   queimada Outras partes
1 Holocausto Propiciação pelo Pecado Animal macho, sem defeito Tudo
2 Cereais/Manjares Gratidão Cereais ou bolos sem fermento Uma parte Comida pelo sacerdote
3 Pacífica (comunhão, gratidão) Bênção recebida; cumprimento de votos; gratidão Animal macho ou fêmea, sem defeito Gordura Comida pelo sacerdote e pelo ofertante
4 Por pecados Purificação de pecado pessoal Animal Gordura Comida pelo sacerdote
5 Culpa (pecados por ignorância) Pecados por ignorância, profanações... Carneiro sem defeito Gordura Comida pelo sacerdote
Há ainda um sacrifício em especial, aquele chamado de pascal, registrado em Êxodo 12, e que aponta diretamente para a crucificação.

a) Tributos (impostos)
Em Ex 30.12-14 (cf. Ex 38.26; 2Cr 24.6,9) Deus impõe um tributo em dinheiro sobre o povo, pago por todo homem de 20 anos ou mais, e que seria para a manutenção do tabernáculo (e mais tarde, do Templo de Jerusalém). Este valor, equivalente a dois dias de trabalho, era o mesmo para ricos e pobres. Não era voluntário. É sobre este imposto que trata o incidente registrado em Mt 17.24-27.

1- Oferta voluntária
Diferentemente da qorban (oferendas obrigatórias pelo pecado), a t^eruwmah era uma oferenda voluntária em dois sentidos: primeiro, o de ser completamente voluntária, onde o ofertante ofertava o que quisesse, quando quisesse e quanto quisesse. Em segundo lugar, o ofertante era livre para oferecer ou não, mas caso se comprometesse, não poderia voltar a trás.

As ofertas voluntárias poderiam ser qualquer coisa, inclusive dinheiro, mas o detalhe é que elas não faziam parte do culto nem foram exigidas legalmente, nem na lei cerimonial muito menos na lei moral. Em ocasiões específicas Deus pediu ao povo doações (t^eruwmah), mas na maioria das vezes o povo as dava como desejasse. No que diz respeito ao dízimo, ele é um t^eruwmah e não um qorban.

Contribuição para a construção do tabernáculo
Pouco depois da travessia do mar Vermelho, recebe instruções Moisés de Deus. O Senhor lhe manda construir a tenda e os seus utensílios. Para isto o Senhor pede ofertas. Entenda-se contribuições voluntárias. Este foi um evento único. Note, porém, que Deus não estipula percentual, não profere maldição para quem não der nada nem torna isto uma atitude perpétua.
Então disse o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel que me tragam uma oferta alçada (t ̂eruwmah); de todo homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada (t ̂eruwmah). E esta é a oferta alçada (t ̂eruwmah) que tomareis deles: ouro, prata, bronze, estofo azul, púrpura, carmesim, linho fino, pelos de cabras, peles de carneiros tintas de vermelho, peles de golfinhos, madeira de acácia, azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção e para o incenso aromático, pedras de ônix, e pedras de engaste para o éfode e para o peitoral. E me farão um santuário, para que eu habite no meio deles” (Ex 25.1-8 - RA).
Ofertas votiva
Vemos na Bíblia algumas situações em que as pessoas faziam votos a Deus. Estes votos eram uma consagração ou dedicação especial ao Senhor. Não eram obrigações impostas pelo Deus de Israel e sim de caráter espontâneo do votante. A pessoa podia assumir o compromisso de oferecer oferendas (Lv 27), de abster-se de algo (Sl 132) ou praticar algo (Gn 28.20). Poderia se o caso de se oferecer a prestar serviço para Deus (1Sm 1.10,11). Ou de comportar-se de modo diferenciado, como é o caso dos votos de nazireu. Um voto nunca era obrigatório, porém uma vez que a pessoa se comprometesse, não poderia voltar à trás (Dt 23.21-23).

Lv 27.2 diz que quando um homem fizer um voto. Como se vê, a prática de se fazer votos já era natural no meio do povo. E o que o Senhor faz é regulamentar em Israel de modo a que o povo fizesse dentro dos padrões de santidade exigidos.

As instruções do capítulo 27 de Levítico pode ser dividido nas seguintes parte:
a) Relativo a pessoas – Quando alguém se oferecia solenemente a Deus, e por alguma razão não pudesse cumpri o voto até o fim, poderia trocar o voto por um pagamento em dinheiro, de acordo com a avaliação de idade e sexo conforme a tabela que o Senhor manda Moisés redigir.

b) Animais – Se o voto fosse o oferecimento de animais, desde que não sejam aqueles que Deus exigiu nos sacrifícios, poderia ser qualquer tipo de animal. Porém, se o votante se arrependesse e não quisesse mais dar o animal, ofereceria em dinheiro o valor deste animal adicionando-se 20%.
c) Casas ou campos – da mesma forma, no caso de se querer resgatar, adiciona-se ao valor em dinheiro, mais 20%.

d) As dízimas – nota-se a continuidade do texto com o verso 26: “Contudo o primogênito dum animal, que por ser primogênito já pertence ao senhor, ninguém o santificará; seja boi ou gado miúdo, pertence ao Senhor”. “Também todos os dízimos da terra, quer dos cereais, quer do fruto das árvores, pertencem ao senhor; santos são ao Senhor (v. 30).
Os Dízimos

Se em Levítico 30 está continuando a mesma ideia do verso 26, então o dízimo pertence a Deus. Porém o texto divide o dízimo em dois grupos: produtos agrícolas e animais. No caso dos produtos agrícolas, o dizimista poderia ficar com a colheita e dar em dinheiro o valor correspondente, acrescido de 20%. Por exemplo: um agricultor colheu 100 quilos de trigo. Pela lei deveria dar 10 quilos para os levitas. Suponhamos que estes 10 quilos valessem, em dinheiro, 30 gramas de prata. Então o dizimista daria 36 gramas de prata aos levitas. Caso fosse gado e rebanho, não se poderia trocar por dinheiro.

Agora, dentro do contexto do capítulo, estes dízimos estão no capítulo de votos voluntários. Pode-se dizer então que o dízimo é algo voluntário? Sim! E pode-se dizer que é um dever, porque o verso 30 diz que são santos ao Senhor? Sim! Então, as duas afirmações são verdadeiras? Sim! Mas precisamos avançar um pouco mais para harmonizar esta conclusão.

Tanto Abraão (Gn 14.20) quanto Jacó (Gn 28.22) deram o dízimo (se deduzimos que Jacó pagou o voto). Praticamente todos os povos antigos tinha o hábito de pagarem dízimo aos seus deuses ou reis. Mas ao que parece, a palavra dízimo, ainda que signifique a décima parte, pode ter sido generalizada para definir qualquer tipo de contribuição ou imposto. Note que Abraão não deu o dízimo de toda a sua fortuna, porém apenas dos despojos da guerra que travara para libertar seu sobrinho Ló.

É razoável, penso, que podemos tomar Lv 27.30-33 como instrução de como dizimar, e não como ordem, obrigação para dizimar. Assim, o ato de dizimar é voluntário, porém a forma e de quais bens ou posses que se deve dar o dízimo é que são regulamentadas. Note-se ainda que Deus não pede dízimo de outra coisa, a não ser do gado, rebanho ou produtos agrícolas.

Dízimos como oferta voluntária e não obrigatória?
Números 18.20-24 diz: “Disse também o Senhor a Arão: Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles nenhuma porção terás; eu sou a tua porção e a tua herança entre os filhos de Israel. Eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, o serviço da tenda da revelação. Ora, nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da revelação, para que não levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas farão o serviço da tenda da revelação, e eles levarão sobre si a sua iniquidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. Porque os dízimos que os filhos de Israel oferecerem ao Senhor em oferta alçada (t ̂eruwmah), eu os tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse que nenhuma herança teriam entre os filhos de Israel”.

Por não terem terra para cultivar e/ou criar animais, os levitas receberiam os dízimos que o povo devotaria ao Senhor. Podemos dizer que Deus repassa à tribo de Levi tudo aquilo que o povo consagraria voluntariamente a Yavé. O verso 24 explicitamente nos diz isto.
E da mesma forma como os levitas receberiam os dízimos, eles deveriam dar aos sacerdotes:
“Disse mais o Senhor a Moisés: Também falarás aos levitas, e lhes dirás: Quando dos filhos de Israel receberdes os dízimos, que deles vos tenho dado por herança, então desses dízimos fareis ao Senhor uma oferta alçada, o dízimo dos dízimos. E computar-se-á a vossa oferta alçada, como o grão da eira, e como a plenitude do lagar. Assim fareis ao Senhor uma oferta alçada de todos os vossos dízimos, que receberdes dos filhos de Israel; e desses dízimos dareis a oferta alçada do Senhor a Arão, o sacerdote. De todas as dádivas que vos forem feitas, oferecereis, do melhor delas, toda a oferta alçada do Senhor, a sua santa parte. Portanto lhes dirás: Quando fizerdes oferta alçada do melhor dos dízimos, será ela computada aos levitas, como a novidade da eira e como a novidade do lagar. E o comereis em qualquer lugar, vós e as vossas famílias; porque é a vossa recompensa pelo vosso serviço na tenda da revelação. Pelo que não levareis sobre vós pecado, se tiverdes alçado o que deles há de melhor; e não profanareis as coisas sagradas dos filhos de Israel, para que não morrais” (Nm 18.25-32).
Tudo isto posto até aqui, minha conclusão é que o dízimo, seja ele a décima parte de algo ou qualquer outro percentual, envolve tanto a voluntariedade quando a obrigatoriedade. Talvez algo como obrigação moral e não legal.

Nenhum filho tem obrigação legal de dar um presente ao pai, mas tem a obrigação moral. Um filho poder ficar mais rico que seu pai. O filho não tem obrigação legal de dar presentes ao seu pai, mas moralmente, sim. E isto é esperado, até como forma de gratidão. Deus nunca exigiu de seus filhos, legalmente, nenhum dinheiro, mas moralmente sim.

A centralização dos dízimos
A partir do momento que Israel deixaria a vida nômade Deus diz que irá separar uma cidade para que, primeiro o tabernáculo, depois o templo, fossem fixos num local específico. Então, algumas instruções precisariam ser adaptadas. O ideal é que tudo se concentrasse neste local, até mesmos os dízimos.

Nem todos os levitas morariam na cidade onde o tabernáculo estava fixo. Alguns morariam cerca de 100 Km de distância. Mas em Dt 12.6-11 Deus diz que o povo deveria levar seus dízimos até este local. Lá todos, sacerdotes, levitas e povo, comeriam dele.  “A esse lugar fareis chegar os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta das vossas mãos, e as ofertas votivas, e as ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. ​Lá, comereis perante o SENHOR, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo o que fizerdes, vós e as vossas casas, no que vos tiver abençoado o SENHOR, vosso Deus”.

Mais tarde, quando o templo foi construído, câmaras para guardar alimentos foram construídas. É o que Malaquias chama de casa do tesouro. Porém, isto não tira o caráter voluntario do dízimo.
Se Lv 27.30-33 diz que os dízimos que seriam recolhidos para os levitas são ofertas voluntárias, e que são frutos da terra e animais e aqui em Dt 12.6-11 nós lemos que Deus pede para trazer tudo ao tabernáculo, e alistas o quê (holocaustos, sacrifícios, dízimos, oferta das mãos, ofertas votivas e ofertas voluntárias), é justo concluir, no mínimo, que Deus não está se referindo a dinheiro.
Não deixe de ler também O dízimo morreu na cruz

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