Quando Jesus se encontra com Nicodemos, um dos principais líderes dos judeus, aprendemos a mais importante lição de nossas vidas: nascer de novo. Todo crente, verdadeiramente crente, sabe que passou pela experiência do novo nascimento. Se você ainda não sabe, vamos aprendê-la agora.
João 3.1-2: Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus. À noite ele veio encontrar Jesus e lhe disse: "Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele". Jesus lhe respondeu: "Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus". Disse lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?" Respondeu lhe Jesus: "Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito". Perguntou lhe Nicodemos: "Como isso pode acontecer?" Respondeu lhe Jesus: "És o mestre de Israel e ignoras essas coisas? "Em verdade, em verdade, te digo: falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, porém não acolheis o nosso testemunho. Se não credes quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando vos falar das coisas do céu? (Bíblia de Jerusalém)
No verso 3 lemos: Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus
Duas palavras importantes, que a tradução mais comum já não reflete um sentido mais profundo, atualmente: anōthen e dunamai.
Anōthen, que foi traduzida por de novo refere-se a coisas que vem de cima, do céu, de Deus. Seria inclusive perfeitamente aceitável a tradução: quem não nascer de Deus…
Assim, o novo nascimento seria um nascimento não natural, da natureza humana, mas sim de Deus, da natureza de Deus. Isto explica melhor a dúvidas de Nicodemos procurando entender o que seria este segundo nascimento, dado que seriam impossível ao ser humano tal proeza.
Poder (dunamai) é a outra palavra. Somos levados, numa leitura rápida, entendê-la como possibilidade. Todavia aqui é correto o sentido de habilidade, poder, capacidade. Para ver o reino de Deus é preciso receber um poder especial. Este poder só é dado àqueles que são nascidos do alto.
Nicodemos aceita o que Jesus diz, mas está confuso. Sua pergunta registrada no verso 4 é retórica. Um absurdo deste é impossível.
No verso seguinte Jesus explica como se opera no mundo sensível, o nosso mundo natural, esta realidade espiritual, metafísica, transcendental. “Respondeu lhe Jesus: "Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (v.5).
Nascer da água é uma clara referência ao batismo. O batismo é o ritual, a cerimônia, que materializa neste mundo sensível uma realidade metafísica: o nascimento do Espírito. Ora, o nascimento do Espírito é, desta forma, o ideal, o verdadeiro nascimento do alto.
Se do alto é o mesmo que de Deus, logo, só Deus pode realizar (gerar) este nascimento. A pessoa divina que operacionaliza esta gestação é o Espírito Santo.
Dois Reinos
Existem duas realidades, dois mundos. Vamos chamá-los de mundo terrestre e mundo celeste. Mas, poderíamos chamá-los de mundos sensível e ideal, da luz e das trevas, dos homens e de Deus, dos imperfeitos e dos perfeitos...
O mundo terrestre é o mundo das coisas naturais, sensíveis, perecíveis; o celeste é sobrenatural, insensível, eterno,
O mundo celeste, é por assim dizer, incomparavelmente superior ao terrestre. Por isso, para que se compreenda racionalmente um mínimo do mundo celeste, é necessário dominar o conhecimento do mundo terrestre.
Ninguém que não saiba resolver uma equação simples, como 2+2 saberá o resultado de x²+8x+16=0. Por que Nicodemos não conseguia compreender o que é o nascimento do Espírito? Porque ele sequer sabe onde nasce o vento, para qual lado o vento irá soprar. Se o vento, que é um produto do mundo terreno é tão insondável para um homem, como ele ousa duvidar da possibilidade das “realidades” do mundo celeste?
Para ter conhecimento das coisas do mundo terreno é necessário nascer neste mundo. Uma alma inata não pode conhecer o mundo. Quem não é nascido de Deus não sabe as coisas de Deus. A menos que alguém seja gerado de Deus, aí sim, conhecerá as coisas do mundo celeste. Por isso, “necessário vos é nascer de novo” (v.7).
Aplicação
Não existe reencarnação
Desde Pitágoras já se falava em transmigração de almas. Atualmente, principalmente na doutrina espírita, acredita-se que a alma de uma pessoa pode reencarnar no corpo de outra após a morte. Fica claríssimo neste diálogo de Jesus com Nicodemos que tal coisa é impossível na doutrina cristã. “E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez” (Hb 9.27)
Nascer de novo é condição sine qua non para se tornar cidadão do céu
Não se trata de assentimento intelectual. Não se trata conhecimento cognitivo puro e simples. Trata-se de uma experiência transcendental, espiritual, real. E isto não é algo que seja mérito humano.
Claro que faz parte do processo o envolvimento de fé e arrependimento. Mas tudo tem início em Deus
Conclusão
O novo nascimento é uma experiência espiritual pela qual passa o salvo. Ela começa por Deus, que através do espírito Santo, mediante o sacrifício de Cristo, nos regenera. Nascemos de novo pela vontade do Pai, e pela experiência do batismo nas águas, damos profissão de fé de que nos arrependemos e confessamos Cristo como nosso senhor e salvador.
Imagem: John La Farge, Visit of Nicodemus to Christ, 1880, oil on canvas, Smithsonian American Art Museum, Gift of William T. Evans, 1909.7.37
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