Deus santificou o shabbat* (sábado), o sétimo dia da semana e fez isso de tal forma que, em Israel, quem o profanasse seria condenado a morte. Hoje, salvo pequenas exceções, os cristãos, quando muito, guardam o domingo. Será que o quarto mandamento foi revogado por Jesus ou continua válido?
1- Em que sentido o descanso é um dia santo?
O sábado é um sinal de união perpétua entre Deus e os homens – Ex 31.13-17
Deus exigiu que o ser humano lhe prestasse culto. Ele tem este direito pois ele nos criou. Não existiríamos sem ele não nos tivesse dado a vida. Ele pode estipular as condições e o como quer ser adorado. Da mesma forma, ele tem o direito de estipular as punições para quem desobedece.
Note! As punições não são para os obedientes, mas para os desobedientes. Eliminar o mal não é ser injusto. Jogamos fora a banana podre não porque a odiamos, mas para que ela não contamine as demais.
Deus criou o sábado como uma gentileza ao homem – Mc 2.27-28.
Pense naquela pessoa importante, um grande líder da nação que você admira, um atleta ou um artista! Imagine se ele o convida para passar um dia e sua mansão de 10 milhões? Negligenciar isto é um desprezo horrível. Deus fez o sábado para que ele e o homem pudessem estar juntos. Você recusaria o convida da pessoa que mais ama para ir à casa dela?
O sábado foi separado por Deus para ser adorado e o homem foi o único, de toda a criação, escolhido por Deus para desfrutar deste privilégio – Gn 2.1-4.
“Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também”. Deus não se afadiga, por isso não precisa descansar fisicamente. O descanso foi criado exclusivamente para dar ao homem o privilégio de estar desocupado de outras obrigações e assim dedicar-se a Deus.
2- Três perspectivas do descanso
O sábado tem uma perspectiva cultual – cultuar a Deus prioritariamente
Já vimos que o primeiro objetivo do descanso é cultuar a Deus. Não apenas indo a um templo, para cantar, orar e ouvir a Palavra, mas também quando passamos em meditação sobre o que diz as escrituras, fazendo caridade ou em culto particular, estamos guardando o quarto mandamento.
O sábado tem uma perspectiva social – não oprimir, escravizar (fostes livres da escravidão do Egito).
Nenhuma outra cultura dos tempos de Moisés (e bem depois) tinha em perspectiva tal preocupação. Notemos que o quarto mandamento se ocupa também de cuidar uns dos outros. Não existiria Declaração dos Direitos Humanos da ONU não fosse o que está prescrito neste mandamento.
O sábado tem uma perspectiva escatológica – aponta para o descaso eterno no novo céu e nova terra – Hb 4.4-9
Hoje, ainda que salvos pela graça, sofremos da escravidão da natureza pecaminosa. Sofremos as fadigas, as dores, as doenças... sofremos quando tropeçamos e caímos em pecados. Mas um dia seremos libertos de todo sofrimento desta era. Um dia estaremos com Cristo numa nova cidade onde ele “enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).
3- O quarto mandamento não foi suprimido
“Não vim para revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir” (Mt 5.17). Jesus não mudou o decálogo em eneálogo. O que ele fez foi corrigir os abusos e legalismos inseridos pelos hipócritas.
Qual dia da semana devemos observar?
Uma vez que o princípio do quarto mandamento é o culto a Deus, seja congregacional, seja privado, então o pecado não está em observar outro dia que não seja o sétimo.
Romanos 14.5,6a diz: “Alguns pensam que certos dias são mais importantes do que os demais, mas outros pensam que todos os dias são iguais. Cada um tenha opinião bem-definida em sua própria mente. Quem pensa que certos dias são mais importantes faz isso para o Senhor”.
Jesus ressuscitou no que hoje chamamos de domingo e em Ap 1.10, João escreve: “Achei-me no Espírito, no dia do Senhor”. Na verdade, a palavra domingo quer dizer dia do Senhor. Desta forma, parece que os cristãos primitivos passaram a guardar o primeiro dia da semana judaica.
Assim sendo, por uma questão de convenção e tradição, cristãos no mundo inteiro dão uma preferência para o domingo como o principal dia de culto.
Como corremos o risco de estar negligenciando o descanso?
- Quando não priorizamos o culto congregacional.
- Quando cuidamos mais de interesses “carnais”: esporte, diversão, trabalho, estudo...
- Quando não descansamos em Deus – confiar que ele supre o necessário.
Conclusão
O decálogo continua válido em todos os seus 10 mandamentos. O quarto não deve ser ignorado nem negligenciado. Deve ser observado como um privilégio presente e um memorial futuro.
Img: Os Dez Mandamentos, por Spagnoletto,1638 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4c/Moses041.jpg/320px-Moses041.jpg
*O sábado (em heb. shabbath, do verbo sabath, "cessar" ou "descansar") era para ser principalmente um dia de descanso de todo trabalho exceto o inevitável, e devia incluir todos os membros da família e até os animais (a lei de Deus é sem paralelo entre as leis antigas, devido sua consideração para com as criaturas irracionais). Era chamado de "sábado do Senhor" (10), porque era dia santificado (8), dedicado à adoração a Deus e às coisas a Ele pertencentes. Sua observação foi sancionada pelo próprio exemplo de Deus (11: ver Gn 2.2-3). Podemos inferir que sua instituição é tão antiga como a criação, e parece já ter sido conhecido mesmo antes dela (ver, por exemplo, #Êx 16.23); porém, é possível que seus detalhes específicos tenham sido estabelecidos pela primeira vez no Sinai. A palavra Lembra-te (8) deve ser entendida não como "recorda aquilo que já sabes", mas "conserva em lembrança perpétua". O repetido desprezo do sábado por parte de gerações posteriores ilustra e confirma a necessidade desse mandamento ser "relembrado". A bênção do Senhor, quanto a esse dia (11), se estende àqueles que observam Seu mandamento de observá-lo como dia santo. (O novo Comentário da Bíblia - F. Davidson - Ed. Vida Nova)
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