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Não furtarás


Introdução

Um país democrático tem a sua Constituição e suas leis complementares. A Carta-Magna deve ser simples, direta e imutável, deixando para as leis complementares a adaptabilidade e contextualização.

Deus nos deu o decálogo, que seria a Constituição (Êxodo 20). Em Êx 22.1-15, o Senhor complementa o oitavo mandamento: Não furtarás. Mais tarde, Jesus e o apóstolo Paulo modificarão o decálogo com a intensão de o adaptar às novas realidades. O mesmo irá ocorrer nos catecismos reformados.

Propriedade privada

Antes de analisar especificamente o que proíbe o oitavo mandamento, uma conclusão óbvia que podemos obter é que só se furta o que pertence a outro. Desta forma, o Senhor reconhece esse direito. O problema não está em se ter posses, mas a maneira como se consegue e o destino que damos a ela.

Muito mais que bens

O oitavo mandamento é simples: não furtarás. Quando lemos isso pensamos simplesmente que alguém só quebra esta ordem se furtar/roubar um objeto de outra pessoa. Entretanto, as duas palavras do mandamento vão mais além.

Furtar é atentar contra a vida de outra pessoa

O apóstolo Paulo, instruindo Timóteo sobre o Decálogo, diz em 1Tm 1.8-10 (Almeida XXI):

Sabemos, porém, que a lei é boa, desde que usada de forma legítima, reconhecendo que não é feita para o justo, mas para transgressores e insubordinados, incrédulos e pecadores, ímpios e profanos, para os que matam pai e mãe e para homicidas, devassos, homossexuais, exploradores de homens, mentirosos, os que proferem falsos juramentos e para todo o que é contrário à sã doutrina.

Paulo usa o termo grego ­andrapodistis, que os especialistas da língua dizem significar: sequestro, escravidão, exploração de seres humanos. Paulo amplia o sentido do oitavo mandamento para ir além de propriedade, mas também à própria vida humana. Não furtarás os bens, a dignidade, o conforto, a honra, o prazer, a saúde etc.

Uma longa lista

O que então poderíamos listar como proibido no oitavo mandamento? O Catecismo Maior de Westminster diz:

Pergunta 142. Quais são os pecados proibidos no oitavo mandamento?

Os pecados proibidos no oitavo mandamento, além da negligência dos deveres exigidos, são: o furto, o roubo, o tráfico de seres humanos e a recepção de qualquer coisa furtada; as transações fraudulentas e os pesos e medidas falsos; a remoção de marcos de propriedade, a injustiça e a infidelidade em contratos entre os homens ou em questões de confiabilidade; a opressão, a extorsão, a usura, o suborno, as vexatórias demandas forenses, o cerco injusto de propriedades e a desapropriação; a acumulação de gêneros para encarecer o preço; os meios ilícitos de vida, e todos os outros modos injustos e pecaminosos de tirar ou de reter de nosso próximo aquilo que lhe pertence, ou de nos enriquecer a nós mesmos; a cobiça, a estima e o amor desordenado aos bens mundanos, a desconfiança, a preocupação excessiva e o empenho em obtê-los, guardá-los e usar deles; a inveja diante da prosperidade de outrem; assim como a ociosidade, a prodigalidade, o jogo dissipador e todos os outros modos pelos quais indevidamente prejudicamos o nosso próprio estado exterior; e o ato de defraudar a nós mesmos do devido uso e conforto da posição em que Deus nos colocou.

Além do que já foi dito no Catecismo de Westminster: dar cheque sem fundos, pirataria, jogos de azar, “gatos” de serviços da água, luz, TV, internet etc. Usar os recursos da empresa/patrão, para proveito próprio, não devolver conscientemente o que tomou emprestado...

O Catecismo Maior ainda diz:

Pergunta 141. Quais são os deveres exigidos no oitavo mandamento?

Os deveres exigidos no oitavo mandamento são: a verdade, a fidelidade e a justiça nos contratos e no comércio entre os homens, dando a cada um o que lhe é devido, a restituição de bens ilicitamente tirados de seus legítimos donos; a doação e a concessão de empréstimo, livremente, conforme as nossas forças e as necessidades de outrem; a moderação de nossos juízos, vontades e afetos, em relação às riquezas deste mundo; o cuidado e empenho providentes em adquirir, guardar, usar e distribuir aquelas coisas que são necessárias e convenientes para o sustento de nossa natureza, e que condizem com a nossa condição; o meio lícito de vida e a diligência no mesmo; a frugalidade; o impedimento de demandas forenses desnecessárias e fianças, ou outros compromissos semelhantes; e o esforço por todos os modos justos e lícitos para adquirir, preservar e adiantar a riqueza e o estado exterior, tanto de outros como o nosso próprio.

O Dízimo

“Pode um homem roubar a Deus? Todavia vós me roubais, e ainda perguntais: Como te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas” (Ml 3.10 – AlmeidaXXI).

Desnecessário dizer qualquer outra coisa!

Como guardar o oitavo mandamento?

A questão é: como eu poderia me lembrar de tão longa lista para não cair no oitavo mandamento?

1– Fugir da Ganância

“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça alguns se desviaram da fé e se torturaram com muitas dores” (1Tm 6.10 – Almeida XXI).

2– Faça pelo outro o que gostaria que fizessem para você.

“Façam aos outros o que querem que eles façam a vocês; pois isso é o que querem dizer a Lei de Moisés e os ensinamentos dos Profetas" (Mt 7.12 – NTLH).

Conclusão

As ordenanças do Senhor não são pesadas. Nós é que complicamos tudo. No que diz respeito ao não furtar, se tão somente vivermos contentes com aquilo que Deus nos dá e estamos disposto a fazer pelo próximo o que for necessário, é praticamente garantido que passaremos incólumes nesta ordenança.


Img: Os Dez Mandamentos, por Spagnoletto,1638 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4c/Moses041.jpg/320px-Moses041.jpg

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