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E se Maria tivesse praticado um aborto?

Quando nos atentamos para a história da família humana de Jesus, não pensamos em algumas circunstâncias que poderiam dar a José e Maria a alternativa do aborto. Pelos Evangelhos sabemos que Maria e Jose eram oficialmente noivos. Em seu tempo, este compromisso era tão ou mais sério que um casamento concreto nos dias atuais.  Para o noivado ser desfeito, haveria de ter carta de divórcio e indenização financeira pela parte que pedisse a separação. E se fosse o caso de Maria ter relações sexuais com outro homem neste interim, José poderia pedir a pena de morte para ela.

Agora imagine Maria indo contar a José que ficara grávida? O anjo só fala com Jose depois que Maria relatou sua gravidez. A decisão de José em fugir é a maior prova de amor que eu leio nas Escrituras, excetuando é claro a do próprio Cristo. Ao fugir, Maria poderia mentir dizendo que José a violentou, sendo assim ele passaria ser o passível de pena capital.

Se você, leitor, já for um cristão, não terá nenhuma dificuldade em aceitar a justificativa de Maria, de que ela foi tornada grávida, ainda virgem, sem relação sexual, de modo milagroso. Agora, tente se colocar no lugar de José. Nunca antes na história da humanidade uma pessoa engravidara sem relação sexual. Imagine se você é casado, vê seu cônjuge saindo de um motel com outra pessoa e este lhe diz que foram ali para fazer uma oração. Ainda que isto seja possível, não dá para acreditar. José estava vivenciado situação parecida.

A sua fuga, como já foi dito, é a prova de ele amava Maria. Então, invés da fuga ele poderia dizer: “Ok Maria, eu te perdoo. Mas agora, o único jeito é você abortar este bebê.”

O que é o aborto?

Vulgarmente falando o aborto é a expulsão do feto antes do cumprimento do prazo mínimo para que este sobreviva. Assim temos o aborto espontâneo e o provocado. No caso deste último, no Brasil, ele é considerado crime. Entretanto, há no Código Penal duas situações em que os envolvidos no aborto não são criminalizados: risco de morte para a mãe e estupro. Todavia, ainda que não haja lei aprovada e sancionada, o STF concedeu que em caso de possível anomalia física ou mental que comprometa a sobrevida do feto após o nascimento, o seu abortamento.

O que é a vida humana? Quando surge a vida?

Os abortistas fazem questão de não discutir este tema, inclusive usando de eufemismos, como “interrupção da gravidez”, para não falar assassinato.

De fato, não se assassina uma barata, pois ela é um inseto e não um ser humano. Então, ao não tratar o feto como um ser humano, interromper gestação, ou sua vida, não seria crime. Claro, aqui já antecipo uma hipocrisia: quebrar ovos de tartaruga é crime, não importa em que fase de sua gestação. O mesmo pensamento não ocorre em relação ao feto humano, para os abortistas.

Na 12º semana de gestação já é possível se fazer um exame que permite mapear o DNA do feto a procura de doenças. Entretanto, o DNA é totalmente formado de 3 a 4 dias após a fecundação.


Com 4 semanas o bebê já tem batimentos cardíacos, e com 8 semanas já se vê os braços, pernas e dedos. No início da 12º semana já está praticamente todo formado, com aproximadamente 6 cm de altura.

Amontoado de células

Os abortistas dizem que até a 12ª semana o bebê é apenas um amontoado de células. Amontoado de células seria se elas não formassem um sistema. Contudo, ainda que se admita esta expressão, uma única célula é um ser vivo.

O portal Descomplica, que prepara jovens para vestibular e ENEM, define seres unicelulares da seguinte forma:

Trata-se de seres vivos compostos por uma única célula. Algumas algas são exemplos de seres unicelulares, bem como as bactérias, protozoários e fungos. A única célula que integra os organismos unicelulares não necessita de outra para sobreviver, sendo capaz, sozinha, de se locomover, alimentar e até se reproduzir, em alguns casos[1]. (DESCOMPLICA)

 

O que é a alma humana? Quando a alma “entra” no bebê?

Comumente podemos dizer que a alma é a parte não física da constituição humana. Ainda que teólogos, filósofos e psicólogos não tenham uma definição categórica, o senso comum percebe que o ser humano não é uma máquina desprovida de um software. A alma seria então o sistema operacional que dá a vida no sentido metafísico.

A questão é: quando a alma é “carregada”, ou “instalada” no corpo humano? Para Platão, as almas existem antes da concepção e de alguma forma elas são enviadas para incorporar. Para os teólogos cristãos, há algumas discordâncias periféricas, mas todos concordam que Deus é o criador da alma assim como o corpo. Aliás, Deus é o criador de tudo.

Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles ainda existia. (Salmos 139.16  -  NAA).

Não faz diferença se Deus cria a alma antes ou durante a gestação, ou depois que o bebê respira o oxigênio pela primeira vez. Deus criou tanto o corpo como a alma.  “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2.7  -  ACF).

A conclusão parcial aqui é que não existe corpo sem alma, bem como não existe alma sem corpo. Também não existe alma em corpo morto. Logo, mesmo para aqueles que consideram que a alma entra no corpo apenas após o parto, o corpo foi feito para receber a alma.

Um corpo sem alma está morto. Porém, a medicina moderna pode transplantar quase qualquer parte do corpo. Uma vez transplantado, o receptor não adquire a alma do doador. A alma do receptor se apropria do órgão doado. Um coração fora do corpo poderia ser um amontoado de células. Porém, incluído no sistema corpo/alma, ele é vivo.

Aristóteles falava sobre o ser em ato (a manifestação do ser como se me apresenta agora, neste momento) e potência (aquilo em que o ser se tornará). Ele usa a ilustração de uma semente, que em ato é uma semente, mas em potência, uma árvore.

Uma semente de laranja não poderá vir a ser uma outra coisa qualquer que não uma laranjeira. Uma laranjeira foi um dia uma semente. Não houvesse a semente, não haveria laranjeira.

Um bebê em ato fetal é, em potência, um homem completo. Einstein não seria Einstein se não tivesse sido um zigoto 30 semanas antes (ele foi parto prematuro). Por outro lado, aquele zigoto não poderia ter se tornado outra coisa senão o célebre cientista.

O que a Bíblia fala sobre aborto

Especificamente, a Bíblia não trata sobre o aborto. Ela diz simplesmente que assassinato é condenável. “Não assassinará” (Ex 20.13). Sobre João Batista se diz: “e será cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.15). Paulo diz em Gl 1.15 que “aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça”. Isto quer dizer que para Deus, o feto é um ser humano.

Parece que a ciência afirma que até 75% dos óvulos fecundados não se fixam no útero, levando a abortos espontâneos. Um certo jornalista ateu usa esta informação para insinuar que Deus não está nem aí para a questão do aborto. Quanto a isto, duas objeções: primeiro, a ciência pode estar errada e estes óvulos já estaria sem vida. Em segundo lugar, Deus deu, Deus tira. Ele e somente ele tem o direito de tomar de volta o que lhe pertence. A morte natural é o destino de todos, sem exceção e se Deus escolheu tomar para si uma vida que não experimentou o nascimento, isto não nos dá o direito de assassinar um bebê não nascido.

Questões éticas diante do Código Penal

Como foi dito, no Brasil há três situações em que o abortamento não é criminalizado: (1) risco de vida da mãe, (2) gravidez resultado estupro, (3) anomalia mental ou física do feto.

Quanto à situação 1, devemos analisar do ponto de vista de salvar uma vida. A tradição Católica diz que se deve escolher o bebê, pois ele precisaria passar pelo sacramento do batismo. Eu, porém, não tenho nenhuma crise em escolher preservar a mãe. Não se trata de assassinato, mas de legítima defesa da própria vida.

No caso 2 é possível exercer e alteridade em relação a uma mulher abusada. Entretanto, não se pode banalizar esta prática. Além disso, se a mulher é uma vítima, a criança também é. Se ela não tem culpa, muito menos a criança. A solução não é incentivar o abortamento, mas a entrega para adoção. Este ato pode até ser instrumento de cura para a mulher, conforme inúmeros casos vivenciados, mas que a mídia não repercute.

Na hipótese 3 é uma situação extremamente delicada. O que seria uma “anomalia mental”, que o STF parece ser favorável para que se pratique o abortamento? Síndrome de Down poderia dar justa causa ao assassinato do bebê? Com os avanços de medicina genética, a partir da 12º semana já se pode descobrir inúmeras possíveis doenças. Ao que tudo indica, em poucos anos saberá se se pode desenvolver um câncer ainda no ventre. Então, quem decidirá pela vida deste bebê?

Conclusão

E se a mãe de Einstein tivesse cometido um assassinato? Se a d. Celeste tivesse cometido um aborto, não teríamos conhecido Pelé. Se as mães de Isaac Newton, Da Vinci, Jobs, Alexander Fleming, Santos Dummont seguissem o raciocínio dos abortistas, teríamos o que temos em avanços tecnológico, artes, esportes etc.?

Se a sua mãe tivesse pensando em você apenas como um amontoado de células, você estaria aqui?

E se Maria tivesse cometido um aborto?

 

[1] DESCOMPLICA. O Que São Seres Unicelulares E Pluricelulares? <https://descomplica.com.br/tudo-sobre-enem/novidades/seres-unicelulares-e-pluricelulares>. Acesso em 25 dez. 2021

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Img2: http://media.guiame.com.br/archives/2020/11/25/1759429960-12-semanas.jpg

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